Reposição hormonal, sono e saúde: uma conexão essencial para a longevidade

A busca por uma vida longa e com qualidade tem levado cada vez mais pessoas a olharem para seus hábitos e para o funcionamento interno do corpo. Nesse contexto, dois pilares fundamentais emergem com grande relevância: o sono e o equilíbrio hormonal.

O que muitos ainda não sabem é o quão interligados eles estão e como essa relação impacta profundamente nossa saúde, bem-estar diário e até mesmo a longevidade.

Antigamente, problemas relacionados ao sono, como o ronco ou a apneia, eram considerados apenas pitorescos ou incômodos para quem dormia ao lado. Hoje, graças a estudos avançados, compreendemos que um sono de má qualidade é, na verdade, uma doença com sérias repercussões para o organismo.

De fato, muitos dos sintomas e queixas apresentados nos consultórios médicos têm, de alguma forma, o sono envolvido.

Nesta postagem, vamos explorar a complexa e vital relação entre o sono e os hormônios, como as alterações hormonais ao longo da vida podem afetar a qualidade do descanso e discutir a importância da avaliação médica e, quando indicada, a reposição hormonal para resgatar o equilíbrio e promover uma vida mais saudável e plena.

A importância fundamental dos hormônios regulados pelo sono

Não é exagero dizer que o sono é um maestro para a orquestra hormonal do nosso corpo. Muitos hormônios essenciais têm sua produção ou liberação diretamente influenciada pelos ciclos e pela qualidade do sono. Entender como isso funciona é crucial para perceber o impacto de uma noite mal dormida.

GH, cortisol e a renovação corporal durante o sono

Um dos hormônios mais importantes com relação direta com o sono é o Hormônio do Crescimento, ou GH.

Embora seja amplamente conhecido por seu papel no crescimento de jovens, desenvolvendo massa muscular e ossos, no adulto o GH é vital para a renovação celular. Ele estimula a multiplicação celular, ajudando as células a terem uma vida mais longa e promovendo a revitalização do organismo. O pico de liberação do GH ocorre principalmente durante o sono, especificamente na primeira metade da noite.

Interessantemente, o GH atua em antagonismo com o cortisol. O cortisol é o hormônio frequentemente ligado ao estresse, à resposta de “luta ou fuga”, e que, em excesso, pode contribuir para o ganho de peso. Quando o GH está alto durante a primeira parte da noite, ele antagoniza o cortisol na glândula adrenal, fazendo com que o cortisol baixe. Conforme a noite avança, o GH começa a diminuir, e o cortisol aumenta gradualmente até nos ajudar a despertar pela manhã.

Um sono prejudicado, especialmente no início da noite, pode desregular essa dinâmica, afetando a renovação celular e potencialmente mantendo o cortisol em níveis mais altos, o que é prejudicial. Gerenciar o estresse, que eleva o cortisol, é um hábito saudável que contribui para a longevidade. O contato com a natureza, por exemplo, tem sido associado à redução na produção de hormônios do estresse, como o cortisol.

Progesterona: mais do que um hormônio sexual feminino

A progesterona é outro hormônio com uma relação estreita e importante com o sono e a saúde geral. Embora seja um hormônio sexual, sua queda não afeta apenas as mulheres.

Com a idade, tanto homens quanto mulheres perdem a capacidade de produzir progesterona em níveis ideais. Nas mulheres, a queda é mais acentuada durante o climatério e a menopausa, já que a produção ovariana diminui, embora as glândulas suprarrenais também a produzam. No homem, a produção nos testículos e nas suprarrenais também declina.

A progesterona é importante durante o sono e na vitalidade do organismo. Ela é um antagonista de hormônios produzidos na adrenal, os mineralocorticoides, que regulam elementos químicos no organismo e a pressão arterial. A queda da progesterona pode levar ao aumento desses mineralocorticoides, resultando em inchaço ou retenção hídrica.

Pessoas que fazem reposição de progesterona frequentemente notam uma diminuição na retenção hídrica. Além disso, a progesterona tem um efeito importante na respiração, atuando nos músculos intercostais (das costelas) e no diafragma, o principal músculo respiratório. Existem receptores de progesterona desde a garganta até os pulmões.

A queda hormonal, especialmente da progesterona, pode afetar a competência de contração desses músculos respiratórios, mediada por um comando central. Isso pode manifestar-se como uma sensação de opressão no peito ou falta de ar.

Muitas vezes, esses sintomas são erroneamente atribuídos à ansiedade ou depressão, quando a causa pode ser a queda da progesterona. Em exames de polissonografia, essa falta de competência muscular pode ser identificada como apneia central.

Testosterona e outros hormônios sexuais no sono

A testosterona, outro hormônio sexual, também tem relação com o sono. Ela tem um pico de produção na segunda metade da noite, aumentando da metade para o final do sono. Se o sono for prejudicado nesta fase, a produção de testosterona pode ser afetada.

Um nível adequado de testosterona pela manhã é importante, por exemplo, e é o motivo pelo qual homens mais jovens podem ter ereção matinal. Quando o sono é interrompido frequentemente, como na apneia, os níveis de testosterona podem não conseguir atingir o pico necessário.

Além da testosterona e progesterona, o estrógeno (com suas variações como estradiol, estriol, estrona) também são hormônios sexuais cuja queda ocorre naturalmente com o envelhecimento. A queda desses hormônios, especialmente durante o climatério e menopausa, está fortemente ligada a distúrbios do sono, como a insônia.

A testosterona e a progesterona também estão ligadas à vitalidade. A queda de testosterona na mulher, que também ocorre na menopausa, contribui para a ausência de libido.

A má qualidade do sono desorganiza todo o corpo. Além de afetar os hormônios do crescimento e sexuais, prejudica também hormônios relacionados à fome e saciedade. O sono inadequado diminui a leptina (hormônio da saciedade produzido pelo tecido adiposo) e aumenta a grelina (hormônio da fome produzido no estômago), levando a mais fome e menos saciedade. Isso contribui para o ganho de peso e obesidade.

Dormir bem é, portanto, fundamental para manter o peso sob controle, além de evitar a retenção hídrica causada pela queda de outros hormônios.

Alterações hormonais e seus impactos no sono e saúde

O envelhecimento traz consigo uma série de mudanças no corpo, incluindo a queda natural na produção de diversos hormônios. Essa queda não deve ser vista como um processo que “tem que correr solto” sem que tomemos atitude. É fundamental entender como essas alterações afetam o sono e a saúde para buscar formas de mitigá-las e garantir qualidade de vida na longevidade.

Menopausa, climatério e a luta contra a insônia

Muitas mulheres se queixam de insônia ao entrar na menopausa. Isso não é coincidência; a queda dos hormônios sexuais, principalmente progesterona e estrógeno, durante o climatério e a menopausa tem uma relação direta com os distúrbios do sono.

A progesterona, como vimos, tem efeitos importantes na regulação respiratória durante o sono. Sua queda pode contribuir para problemas respiratórios noturnos. A testosterona também cai na menopausa, afetando o sono e a libido. Essa queda hormonal desorganiza o sono, e o sono desorganizado, por sua vez, exacerba a perda hormonal. É um ciclo vicioso. A ansiedade e a ausência de libido frequentemente relatadas na menopausa também estão ligadas à queda hormonal.

Uma mulher que entra precocemente na menopausa (como uma pessoa que a experimentou aos 36 anos) pode sentir todos esses desconfortos, incluindo insônia, ansiedade e ausência de libido, justificados pela queda hormonal. A boa notícia é que é possível regular essas situações com o uso de medicação, sob orientação médica.

Outras desregulações hormonais e o sono

Não são apenas os hormônios sexuais que afetam o sono. Outras glândulas e seus hormônios também desempenham papéis cruciais. Por exemplo, doenças da tireoide, como a Doença de Hashimoto (uma doença autoimune que destrói a tireoide, levando ao hipotireoidismo), têm alteração do sono como sintoma.

O hipotireoidismo pode causar sono excessivo durante o dia. A apneia do sono, por sua vez, também altera os hormônios tireoidianos. Existe, portanto, uma relação complexa onde uma condição pode influenciar a outra.

Problemas relacionados ao cortisol também impactam o sono. O fato de sentir sono o dia todo e não conseguir dormir à noite pode estar ligado a uma bagunça nos níveis de cortisol, com níveis baixos durante o dia e elevados à noite. Isso pode ser causado por estresse, preocupação constante e excesso de estímulo.

Gerenciar o estresse e cuidar da mente, incluindo momentos de descanso e lazer, é fundamental para reequilibrar o cortisol e o sono.

Mesmo em crianças, o sono é vital para o crescimento, mediado pelo GH. Crianças com hipertrofia de adenoide, que roncam e têm apneia, podem ter o desenvolvimento prejudicado. Após a remoção da adenoide, elas geralmente voltam a crescer normalmente. Isso reforça a importância do sono de qualidade em todas as idades e a ligação direta com hormônios como o GH.

Reposição hormonal: uma abordagem para o equilíbrio

Diante da queda hormonal e seus sintomas, surge a questão da reposição hormonal. Existe muito preconceito e confusão em torno desse tema. No entanto, a reposição hormonal, quando indicada e realizada sob supervisão médica, é uma ferramenta que pode ajudar a restaurar o equilíbrio e aliviar sintomas desconfortáveis.

Não se trata de “deixar a natureza correr solta” enquanto o organismo envelhece e se desgasta, mas sim de fazer uso das descobertas médicas para melhorar a saúde e a qualidade de vida.

É importante entender que a necessidade de reposição hormonal é individual e complexa. Não basta ter insônia ou sintomas de menopausa para iniciar o tratamento. É preciso ir ao médico para buscar ajuda. O médico irá avaliar o caso específico, solicitar exames hormonais e outros marcadores (inclusive marcadores tumorais, se houver receio de câncer) para determinar se há indicação e qual a dosagem adequada.

Mulheres podem precisar repor testosterona e homens progesterona, assim como mulheres precisam de progesterona e estrógeno e homens de testosterona, mas sempre nas dosagens corretas para cada gênero.

A reposição hormonal, ao reequilibrar os níveis, pode ajudar a melhorar o sono, diminuir a ansiedade, restaurar a libido, reduzir a retenção hídrica e ter impactos positivos em outros sistemas do corpo.

Além da reposição em si, o corpo precisa dos “tijolos” para produzir hormônios. O colesterol produzido no fígado, por exemplo, é a base para a formação dos hormônios sexuais. Uma dieta equilibrada e variada, rica em nutrientes, é essencial.

Elementos químicos como o boro, presente em alimentos como alface, são importantes para a composição da progesterona, por exemplo. Uma dieta orientada por um nutricionista pode complementar a saúde hormonal.

Cuidar do sono com uma boa higiene do sono, praticar atividades físicas, gerenciar o estresse, ter uma vida social ativa e até mesmo passar tempo na natureza são hábitos saudáveis que apoiam a saúde geral e contribuem para um melhor equilíbrio hormonal e uma vida mais longa e saudável.

Em resumo, o sono ruim prejudica todo o corpo, incluindo o sistema hormonal. Desregulações hormonais, por sua vez, afetam a qualidade do sono. Buscar ajuda médica é o passo mais importante para identificar a causa dos distúrbios do sono e das queixas de saúde, que podem estar ligados a desequilíbrios hormonais que podem ser tratados, inclusive com reposição, quando bem indicada.

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